O presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), Eduardo Colombari, defendeu na tarde desta terça-feira (2), na Unicamp, a criação de uma Frente Parlamentar da Ciência – um instrumento político que, segundo ele, teria como objetivo pressionar as esferas de decisão junto às casas legislativas a fim de garantir o orçamento necessário para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país. De acordo com Colombari, o Legislativo brasileiro “é dominado por um negacionismo” que vê a ciência como despesa e não como investimento.
“Já passou da hora de cada cientista brasileiro se engajar politicamente em defesa da ciência”, disse durante a abertura do 38º encontro anual da entidade, que, até o dia 5, vai reunir na Unicamp cerca de 1.200 mil cientistas, entre professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação e de graduação.
“Precisamos fazer lobby pela ciência, assim como os religiosos, o setor agropecuário, a indústria farmacêutica ou a indústria bélica têm feito há décadas”, argumentou Colombari. “As sociedades científicas norte-americanas, por exemplo, adotaram uma postura, há muito tempo, de defesa do orçamento para o setor”, reforçou.
O presidente da Fesbe lembrou do projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para cortar em 30% o orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Desde a fundação da Fapesp, nunca ninguém ousou mexer com esse orçamento”, afirmou.
“Nós [a Fesbe] somos mais de 10 mil cientistas em todo o Brasil e precisamos unir essa força não apenas nos laboratórios, mas também fora deles – cobrando os políticos ou até mesmo os candidatos, indo até lá [ao Congresso Nacional] para defender a ciência brasileira”, exortou. “Porque não se faz ciência sem investimento. E não se faz o desenvolvimento de um país sem ciência.”
No dia 4 (quinta-feira) – penúltimo dia do encontro –, a mesa intitulada “Fesbe em Brasília: Frente Parlamentar da Pesquisa Biomédica e sua aplicação na saúde” vai discutir o problema.
Confira a programação completa do evento.
Potência da produção científica
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, participou da abertura do encontro e lembrou que o orçamento constitucional da Fapesp e a autonomia das universidades públicas paulistas transformaram o Estado de São Paulo em uma potência da produção científica. “Isso [a força da ciência no Estado] é resultado de anos de Fapesp e anos de autonomia universitária”, avalia Meirelles.
Para o reitor, o país “tem desafios imensos pela frente” que as universidades podem ajudar a enfrentar. É preciso convencer o mundo político e também a sociedade sobre a importância do investimento em ciência, concluiu Meirelles.
A coordenadora-geral da Unicamp, Maria Luiza Moretti, também presente na cerimônia, disse que a Universidade se sente “privilegiada” por abrigar um evento desse porte. “A Fesbe tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento da ciência no Brasil.”
A cerimônia de abertura do congresso contou ainda com a presença da pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, Rachel Meneguello, e da professora Patricia Boer, primeira-secretária da Fesbe.
Neste ano, a reunião anual conta com mais de 200 atividades, entre conferências, palestras, cursos, mesas-redondas ou rodas de conversa, em que serão apresentados mais de 600 trabalhos científicos e ministrados 25 cursos.
A conferência de abertura, “Entre o passado e o futuro: os (des)caminhos da universidade brasileira”, foi ministrada pela professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Lúcia de Almeida Gazzola.