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Prédio do Instituto de Geociências da Unicamp: revalorização da iluminação natural passou por questões geopolíticas e ambientais
Prédio do Instituto de Geociências da Unicamp: revalorização da iluminação natural passou por questões geopolíticas e ambientais

A iluminação natural em uma edificação pode trazer diversos benefícios, como bem-estar, conforto e a redução do consumo de energia elétrica. Nas fases iniciais de projetos de arquitetura, no entanto, muitas vezes a luz do dia é relegada a um segundo plano. Em tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (Fecfau) da Unicamp, a arquiteta Jessica Matos elaborou uma ferramenta virtual para auxiliar nesse processo. O público-alvo são alunos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, mas o material está disponível para qualquer pessoa que deseje acessar conceitos básicos de iluminação.

“Frequentemente, a iluminação é negligenciada no processo de concepção. Muitos elaboram um projeto sem considerar esse aspecto, confiando em softwares para resolver eventuais problemas. No entanto, durante a fase inicial do projeto, é crucial tomar decisões significativas. Se essa etapa for subestimada, o software não será capaz de compensar pelas escolhas inadequadas, limitando-se a identificar os erros já existentes. Daí a importância de o arquiteto ter consciência e considerar a iluminação desde a concepção do projeto”, explica Matos.

A fim de elaborar melhor as questões sobre iluminação, a autora do trabalho analisou 17 ferramentas disponíveis. Após investigar seus pontos fortes e suas lacunas, seguindo a metodologia Design Science Research (em que um problema é identificado e um produto, desenvolvido para saná-lo), criou uma nova ferramenta, online e de acesso livre: o Daylight Design (www.daylightdesign.com.br). No site, é possível consultar parâmetros de projetos em cinco aspectos: urbano, de entorno, de interiores e de mobiliário, além de contar com um eixo específico, que traz conceitos básicos de iluminação.

“Na arquitetura, temos softwares cada vez mais poderosos que conseguem estimar, por exemplo, a disponibilidade de luz natural ao longo de um ano no interior de um edifício. Mas o software funciona quando o projeto já está pronto. Nós gostaríamos de algo que ajudasse nas etapas iniciais do projeto, para evitar desperdício, e isso caiu bem na pesquisa da Jessica, que busca justamente informações para etapas iniciais de um projeto”, avalia o orientador da pesquisa, Paulo Sergio Scarazzato, professor aposentado da Unicamp e professor associado junto ao Departamento de Tecnologia da Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).

No site, já estão disponíveis mais de 70 parâmetros relativos à iluminação. A ideia é que esse conhecimento seja atualizado e aprofundado com a colaboração de especialistas. “Esse processo pode evoluir para um trabalho colaborativo. Inicialmente, o conhecimento é amplo e generalista. Em fases posteriores, especialistas podem ser envolvidos para aprofundar e ajustar parâmetros específicos”, indica a arquiteta, para quem um dos destaques do trabalho é a metodologia utilizada, que poderá ser aplicada em outras áreas de projeto.

A arquiteta Jessica Matos: ferramenta foi testada e aprovada em sala de aula
A arquiteta Jessica Matos: ferramenta foi testada e aprovada em sala de aula

Avaliação

A ferramenta foi testada em disciplinas de projeto do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Fecfau. A então doutoranda usou questionários de avaliação para analisar a aplicabilidade e a contribuição do software na formação do aluno no que se refere à área de iluminação natural.

Os estudantes deram um retorno positivo sobre a usabilidade do software, considerando-o de fácil utilização e afirmando que contribuiu com seus projetos em diferentes graus. A maioria também respondeu que irá utilizá-lo no futuro. Os graduandos, diz Matos, mostraram-se colaborativos e a devolutiva recebida possibilitou o aperfeiçoamento da ferramenta, de forma a torná-la ainda mais funcional.

Desde o início da arquitetura, quando ainda não existia a luz elétrica, fazia-se necessário projetar considerando a iluminação natural. “Os ambientes eram projetados com isso em mente. É por isso que existem tantas referências na Europa [a esse respeito], já que ao longo de séculos a arquitetura pretendeu capturar o máximo de luz, possibilitando o pleno funcionamento da vida dentro desses espaços”, explica a arquiteta.

Com o advento da luz elétrica, contudo, a iluminação natural passou a ser negligenciada nos projetos arquitetônicos. “A luz elétrica possibilitou que a vida se estendesse, permitindo a realização de diversas atividades no período noturno. Nos pontos a que não chegava luz, colocavam-se lâmpadas elétricas. E começaram a existir prédios cuja construção não mais considerava uma preocupação central: trazer a luz do dia para dentro dos ambientes”, pontua.

Scarazzato destaca que a iluminação natural passou a ser revalorizada devido a questões geopolíticas e ambientais. “Os cuidados com a iluminação só ressurgiram a partir da década de 1970, quando houve duas crises que elevaram substancialmente o preço do petróleo.” É o que ele chama de o “renascimento” da iluminação natural.

Nos anos 1980, a preocupação com a sustentabilidade adicionou mais um elemento à revalorização da luz do dia. Por fim, pesquisas realizadas no início do século 21 sobre os efeitos não visuais da luz indicaram a importância dela para a saúde das pessoas, como, por exemplo, na regulação hormonal. “Por incrível que pareça, só no início do século isso foi notado. A luz interfere diretamente na nossa saúde. Nada como respeitar o ciclo dia e noite. Somos seres de hábitos diurnos. Tudo que a gente faz sob a luz artificial tem o seu preço, não só monetário, mas também com relação à saúde”, aponta o professor.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

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