O professor Qiu Zeqi, do Departamento de Sociologia da Universidade de Pequim (PKU, na sigla em inglês), estudioso do uso de inteligência artificial (IA) nas ciências humanas e sociais, proferiu uma palestra na segunda-feira (29), no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, abordando como o uso dessas ferramentas tecnológicas pode aprimorar a produção científica nas humanidades.
Organizada pelo Grupo de Estudos Brasil-China (GEBC), com apoio do IE e do Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp, a apresentação “Três Pilares da Inteligência Artificial para as Ciências Humanas e Sociais” atraiu alunos, pesquisadores e docentes ao Auditório Zeferino Vaz. Qiu é diretor do Centro de Estudos de Pesquisa e Desenvolvimento Sociológico da PKU e professor emérito do Programa “Yangtze River Scholar”, do Ministério da Educação da China, além de diretor do Instituto de Governança Digital da PKU.
Desde a década de 2000, o uso de tecnologias de IA em várias áreas tem se popularizado, aponta Qiu. No entanto, estudos mostram que as ciências sociais estão entre aquelas que menos as empregam, apesar de, nos últimos anos, o número de publicações que faz uso de tais ferramentas ter crescido fortemente. No outro extremo, a ciência da computação é a que mais se destaca no uso desses recursos tecnológicos, como no caso da programação.
Segundo Qiu, a criatividade e a abstração são capacidades especiais do cérebro humano e, nesses setores, as máquinas ainda são menos capazes que os humanos. “Se as máquinas no futuro serão tanto quanto ou mais poderosas que os seres humanos, ainda não sabemos, mas, até este momento, sabemos que as máquinas são mais poderosas de várias formas que os seres humanos, por exemplo, em memória e cálculo”, afirmou o professor da PKU.
Um estudo publicado por Qiu em 2023 revela como a inteligência das máquinas pode ser combinada à dos seres humanos também para a criação intelectual. De acordo com a pesquisa, os três pilares do uso dessas ferramentas nas humanidades e ciências sociais consistem em: integração de dados – de diferentes fontes, como textuais ou pictóricas –, análise dos dados – com algoritmos –, e, finalmente, formulação teórica – com a imaginação para a geração de conhecimento.
O sociólogo chinês deu alguns exemplos de como a IA está sendo empregada para processar um grande volume de dados nas ciências humanas e sociais, como nos casos do estudo de textos clássicos e de pinturas tradicionais e históricas da China, de interpretação de textos do grego antigo e de perfis de interação entre usuários nas mídias sociais.
Para ele, os desafios colocados pela IA demandam mudanças nos cursos universitários, para que as novas gerações de pesquisadores tenham um maior acesso a essas ferramentas. “Estamos tentando reformular nossos currículos na Universidade de Pequim e, no próximo semestre, oferecerei um curso intitulado Sociedade Digital, buscando reunir esses conhecimentos para os estudantes de graduação.”
Fizeram parte da mesa de abertura da palestra o diretor do IE, Celio Hiratuka, e o coordenador do IdEA, Christiano Lyra Filho. A gravação da palestra, ministrada em inglês, está disponível na página do IE no YouTube.
Assista ao vídeo da palestra: “Três Pilares da Inteligência Artificial para as Ciências Humanas e Sociais”