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No dia 22 de junho, Amauri Donadon Leal Junior, estudante de Doutorado em Ciências Farmacêuticas da Unicamp e nadador, participou do Meeting Paralímpico Loterias Caixa, realizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro no Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo. Ele foi o único estudante da Unicamp na competição e brilhou ao conquistar ouro nos 50 metros livres, nos 100 metros livres e nos 100 metros costas, na seletiva estadual paulista das Paralimpíadas Universitárias.

Amauri compete na classe S13, voltada para atletas de baixa visão. “Minha deficiência se chama distrofia de cones e bastonetes, é uma doença degenerativa da retina. Assim, tenho baixa visão, principalmente no centro da visão onde a degeneração é mais acentuada. Além disso, essa condição afeta a identificação de contrastes, cor, visão central de precisão e principalmente, fotofobia, que é a dificuldade em enxergar em ambientes claros”, explica. “Mas, de forma geral, consegui adequar bem minha rotina e achar alternativas para o que poderia ser um obstáculo pela visão”, acrescenta.

Foto de Amauri Leal Jr., doutorando da FCF, segurando suas três medalhas de ouro

Entre as adaptações, está o uso do alto contraste e amplificador de tela em seu celular e no computador. Essa adaptação foi necessária, inclusive, na prova escrita do processo seletivo para ingresso no Doutorado em Ciências Farmacêuticas, no qual foi aprovado em primeiro lugar, em junho de 2023.

O projeto de pesquisa de doutorado, atualmente financiado por uma bolsa da CAPES, está sendo conduzido no Laboratório de Biologia Computacional do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, sob orientação do pesquisador Paulo Sergio Lopes de Oliveira. Seu foco está no uso métodos computacionais para entender a estabilidade de anticorpos. “Entender essas proteínas do sistema imune é muito importante, pois elas podem ser sintetizadas como fármacos no tratamento de doenças causadas por agentes de alta complexidade, como cânceres”, argumenta Amauri. “A nossa ideia é usar diversas ferramentas computacionais poderosas para entender a dinâmica dos anticorpos, trazendo mais informações e podendo até prever novos anticorpos candidatos a serem uma nova opção terapêutica. Isso pode auxiliar na bancada experimental da indústria e pesquisa prevendo candidatos promissores, reduzindo o tempo e custo das tentativas de desenvolvimento de anticorpos e acelerando este processo”.

O caminho até o ouro por meio da extensão universitária

A jornada de Amauri na natação teve início durante um projeto de extensão coordenado pelo professor Décio Roberto Calegari — que era doutor em Educação Física pela Unicamp e faleceu precocemente em fevereiro de 2020 — na Universidade Estadual de Maringá, sua cidade natal, quando cursava o curso de graduação em Biomedicina. Desde então, treinado por Raphael Matsumoto, já participou de outras edições das Paralimpíadas Universitárias e de Meetings Paralímpicos do Circuito Loterias Caixa, Regional Rio-Sul. No Paraná, ele detém recordes estaduais na classe S13 dos Jogos Abertos do Paraná, e competiu na fase nacional do Circuito Loterias Caixa, onde conquistou duas medalhas de bronze. Amauri destaca essas conquistas como seus resultados mais significativos, especialmente por serem em competições de nível nacional.

Os treinos foram interrompidos devido à mudança para Campinas. “Precisei me adaptar primeiro e acabei ficando um semestre sem praticar atividade física. Isso estava acabando comigo, física e mentalmente. Então fiz um propósito concreto de buscar algo na Unicamp nesse sentido”, relata. Os primeiros passos foram dados em fevereiro deste ano, quando se aproximou da professora Maria Luíza Tanure Alves, por indicações que recebeu quando procurou a Faculdade de Educação Física. Amauri foi então encaminhado para a professora Mariana Simões Pimentel Gomes, que trabalhou em três edições de Jogos Paralímpicos, incluindo Rio 2016. As professores Maria Luíza e Mariana são docentes do Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada, da Faculdade de Educação Física da Unicamp, e lideram o grupo de pesquisa em Atividade Física Adaptada e Esporte Paralímpico.

“A professora Mariana abraçou a causa e tornou possível abrir uma turma de extensão de natação paralímpica”, explica o doutorando. “O que havia começado com um pedido singular se tornou uma turma com vinte alunos inscritos. Fiquei muito feliz com esse fato, porque sei o poder que o esporte tem em melhorar a vida das pessoas como um todo — física, mental e socialmente”.

No primeiro semestre deste ano, Amauri conseguiu equilibrar diversas atividades. Além da própria pesquisa de doutorado, das aulas de uma disciplina obrigatória do curso de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, do estágio docente na disciplina de Boas Práticas de Laboratório e Gestão de Resíduos do curso de Farmácia, ele manteve a rotina de treino duas vezes por semana nas piscinas da Faculdade de Educação Física. Foi durante o treinamento que surgiu a oportunidade de participar do Meeting Paralímpico, que resultou nas três medalhas douradas, a primeira conquista como estudante da Unicamp.

“Fico muito feliz com a oportunidade de competir pela Unicamp, mas mais feliz ainda por ver que esse projeto está melhorando a vida de mais pessoas. Meu objetivo é a carreira científica, é para isso que vim, mas entendo que é preciso manter um equilíbrio entre corpo e mente, e a natação ajuda a balancear isso. Além de mostrar que um empenho acadêmico não exclui um desempenho esportivo e vice versa, isso pode trazer para os novos atletas mais alternativas fora da piscina, uma composição completa”, conclui.

Esporte, acessibilidade e inclusão na Unicamp

Foto de um homem e uma mulher ao lado de uma placa
Amauri e Edilene Donadon na inauguração do VAMUS, em outubro de 2023

A principal dificuldade vivenciada por Amauri em seu dia a dia é a locomoção no campus da Unicamp e em Barão Geraldo. Para isso, ele conta com o auxílio de uma bengala verde (assim como outros municípios, Campinas tem legislação sobre o tema — a lei 16.259, de 16 de maio de 2022).

Nas dependências da Unicamp, ele utiliza com frequência o VAMUS, veículo acessível de mobilidade cujo serviço está disponível desde outubro de 2023. Inclusive, ele e a idealizadora do projeto, a arquiteta Edilene Donadon, que coordena o Laboratório de Pesquisa Aplicada em Acessibilidade Arquitetônica e Urbana, o Lapa, da Prefeitura Universitária, inaugurado em maio, têm um parentesco distante.

Além disso, em 14 de junho de 2024, a Comissão Central de Pós-Graduação publicou uma instrução normativa orientando que os programas de pós-graduação implementem vagas adicionais exclusivas voltadas às pessoas com deficiência aprovadas em processos seletivos. Finalmente, o Grupo de Trabalho designado em junho de 2023 pela avaliar e propor medidas para implantação de cotas para pessoas com deficiência nos processos seletivos dos Colégios Técnicos e Vestibular da Unicamp divulgou seu relatório final, que foi encaminhado para discussão nas Congregações das Unidades de Ensino e Pesquisa.

Em relação ao esporte, em novembro de 2023, uma Diretoria de Esportes foi integrada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unicamp, que passou a se chamar, em maio de 2024, Pró-Reitoria de Extensão, Esporte e Cultura — ProEEC. A Diretoria será responsável por implementar a Política de Esportes da Universidade (Deliberação CONSU-A-028/2023). A norma prevê o incentivo ao desenvolvimento de atletas e paratletas de rendimento, visando a participação da Unicamp em competições esportivas oficiais, bem como, no futuro, a concessão de bolsas aluno-atleta e de bolsas aluno-treinador para estudantes.

São avanços recentes da Unicamp em esporte, acessibilidade e inclusão que inspiram mudanças institucionais significativas, e que se relacionam à recente conquista de Amauri.

Texto publicado originalmente no site da FCF.

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